Assim como o fogo, o governo é necessário, mas perigoso. Você sabe disso. Seu perigo foi demonstrado no meu paÃs e no seu por dois fatos recentes.
Vergonhosamente, o secretário de Defesa dos Estados Unidos ordenou que a Guarda Nacional da Califórnia, composta por soldados em "meio perÃodo", fosse a Los Angeles para reprimir uma manifestação geralmente pacÃfica de algumas centenas de cidadãos de Los Angeles contra a polÃtica autoritária do governo federal sobre a imigração. "Federalizar" a Guarda Nacional para confrontar norte-americanos, em vez de confrontar estrangeiros, não era feito desde 1965. E agora o secretário, para provar a Trump que é um cara durão, ameaçou trazer os Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. Isso nunca foi tentado âfuzileiros navais designados para atirar em civis, em casa. Uau!
Criar falsas emergências para usar as forças armadas contra a liberdade dos cidadãos é, obviamente, o normal em uma tirania. Os brasileiros vivenciaram isso, não preciso lembrar, de 1964 a 1985. Muitos americanos não acordaram para essa possibilidade, embora estejam começando a se remexer com inquietação em seu sono.
E no Brasil, vergonhosamente, um tribunal condenou um comediante a mais de oito anos de prisão por fazer piadas. Você pode ver que ambos os fatos atacam a liberdade de expressão: um usa o porrete do governo para reprimir manifestações pacÃficas contra polÃticas, o outro usa o porrete para impedir piadas desagradáveis, mas, segundo me disseram, engraçadas, de Léo Lins zombando de pessoas com deficiência, negros e pedófilos.
Eu gaguejo e sou uma mulher trans. Então, quando o hilariante filme "Um Peixe Chamado Wanda" zomba de um gago, ou quando o comediante britânico Jimmy Carr zomba de mulheres trans, eu deveria chamar a polÃcia, os tribunais ou talvez os fuzileiros navais para impedir. Não seja boba.
Além da pena de prisão, agora sob recurso, Lins recebeu uma multa pesada porque, segundo o tribunal, seu discurso causou "danos morais coletivos". Na internet, muitos brasileiros aprovaram. à de se perguntar como eles reagirão quando o porrete for usado para impedir seu próprio discurso.
A pena é muito mais dura do que muitas condenações no Brasil por estupro ou assassinato. E, claro, é muito mais dura que a pena de prisão que seria cumprida por, digamos, um dirigente sindical corrupto, embora bem relacionado âo exemplo é totalmente hipotéticoâ, em um esquema, digamos, para redirecionar aposentadorias para o seu bolso. Não há "danos morais coletivos" aà âapenas R$ 6 bilhões roubados de 2016 a 2023.
Os Estados Unidos nem sempre foram um paÃs de liberdade de expressão. Até relativamente pouco tempo atrás, a Suprema Corte costumava efetuar a censura local e federal.
"Proibido em Boston" era uma expressão bem conhecida. Os juÃzes federais impediram que livros como "Ulisses", de James Joyce, causassem danos morais coletivos à s delicadas mentes dos americanos.
O comediante americano que, no inÃcio da década de 1960, começou a fazer essa censura parecer ridÃcula foi o grande Lenny Bruce (1925-1966). Assim como Lins, ele "ofendeu" pessoas. Em sua época, eram os conservadores que se sentiam ofendidos e traziam o porrete do governo. Hoje são os progressistas, cujos filósofos definiram a persuasão como "dominação" e as palavras como armas.
Bruce e Lins dizem: não sejam bobos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.